FRABRICAMOS O SILÊNCIO….
Fabricamos o silêncio
Nas mãos e nos lábios de ontem
E atiramos o grito
Para a imensidão do mar que nos há-de engolir
Do vento não falamos
E todas as praias inventadas em mim
Lançam as ondas da eterna dor
Havemos de partir
No amanhã
CHIPINDO
No chão
O sangue da terra rasgada
Sobre mim
Rios de silêncio com margens de medo
Parindo línguas de fome
Sobre o teu ventre cheio de vento
Fabricamos o silêncio
Nas mãos e nos lábios de ontem
E atiramos o grito
Para a imensidão do mar que nos há-de engolir
Do vento não falamos
E todas as praias inventadas em mim
Lançam as ondas da eterna dor
Havemos de partir
No amanhã
CHIPINDO
No chão
O sangue da terra rasgada
Sobre mim
Rios de silêncio com margens de medo
Parindo línguas de fome
Sobre o teu ventre cheio de vento
MUMUÍLA
Vinhas pelos campos
Madrugadas esquecidas
Enquanto meus olhos te absorviam
Na loucura do sol poente
Eras o verde da esperança
Nos punhos cerrados sobre as enxadas
Vinhas pelos campos
Eras a esperança a nascer
Em todos os olhares das crianças e mulheres
Estátuas de fome
Bocas sobre o horizonte seco e quente
Terra a estalar em sede
Vinhas pelos campos
E nasciam em ti todas as madrugadas
AINDA UM DIA…
Ainda um dia irei buscar-te coragem
Para quebrar todas as pontes
Que ligam o vazio o plástico e o frio
Ao sonho às estrelas e à vida
Ainda um dia hei-de quebrar portas e janelas
Para acordar sereno sobre o negro do teu olhar
E embebedar-me das cores do amanhecer
Dessa fonte que dorme em ti
PARTIDA
Depois
Há a angústia da solidão
O canto de pássaros
A incerteza dos amanhãs
O nó que afoga e não passa
A noite
Depois
Há as casas manchadas de sombras
Um punhado de lágrimas
Os lábios que se unem
Como asas de uma mesma flor
Os elos de um até já
Depois
Há a nostalgia da praia deserta
As rosas vermelhas esquecidas
As horas mortas e cansadas dos dias opacos
Depois
São as minhas lágrimas a quererem despertar
No silêncio do olhar
Sofrendo horas de carne e cinzas
Depois
São os meus poemas
De braços nus à chuva a quererem poisar em tua boca
Confiantes na noite onde mãos abandonadas
Colhem flores esquecidas nas tardes
Depois
Depois amor
É chegada a hora da partida
ABRI CAMINHOS
Abri caminhos
E em cada caminho deixei que os deuses se confundissem com a noite
Nesta fúria eterna de dar cor ao sonho
Abri caminhos
E em cada caminho acendi fogueiras em todos os trilhos da floresta
Erguida ao luar do pensamento
Abri caminhos
E em cada caminho coloquei coroas de medo
Suspensas sobre o sangue reclamado
SOLIDÃO
Ausência Frio
Lágrimas sobre violinos
A vida equilibrada no tempo
Ausência Frio
A melodia esquecida
As palavras amarradas
Ausência Frio
Os passos percorrem a cidade
Arrastam o pensamento
SENTIR
Sentir
Sentir sobre o peito
A violência quente das tuas mãos
Sentir
Sentir sobre os lábios
A dor mágica dos teus lábios
Sentir
Sentir sempre
Até que as horas se esgotem
SERENAS CORREM AS ÁGUAS
Serenas correm as águas
Sobre as doces margens do teu corpo
De que falaremos amor
Do tempo antigo
Do cristal oferecido aos deuses
Dos jardins mágicos do éden
Ou do ácido que nunca bebemos
Serenas correm as águas
Sobre a transparência amarga das tardes
De que falaremos amor
Da praia de luas vermelhas
Da loucura dos encontros
Ou da violência do tempo
Serenas correm as águas
Sobre o brilho invulgar do teu olhar
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